quarta-feira, novembro 22, 2006

O Viajante e o Turista - part. II


Supondo que o Ser Feliz é uma Cascata no coração de uma montanha onde não há indícios de civilização nenhuma a não ser um par de acanhados e despretensiosos trilhos. Há uma permanente bruma aconchegando as folhas e rochedos.

Nós somos os explorados, uns mais empenhados, outros nem tanto, uns mais com espírito de turista do que propriamente de viajante. No meio daquela floresta de imensos ecossistemas, dos mais belos pormenores, o único trilho de entrada bifurca-se, sem uma única sinalização a não ser uma singela tabela, direccionado para um lado a palavra Longo e para o outro a palavra Curto. Neste momento o que devemos escolher? Sabemos o que queremos, chegar a mais bela Cascata, porém não sabemos o caminho, num célere instante deduzimos, ambos caminhos vão lá desaguar. Se tal acontece para quê perder tempo indo pelo mais longo, com estes pressupostos o turista embica no sentido da seta e pelo Curto navega.

Passado pouco tempo chega a um penhasco, a visão é uma pintura do melhor Mestre artístico, sente que só um ser perfeito poderia reunir tais condições numa só visão.

A pacatez da água a fluir até ao precipício, a sua metamorfose sumptuosa mostrado a sua força interior ao esvoaçar até ao mergulho na lagoa de águas reluzentes e melodiosas. O som da exclamação proferida neste abraço entre o presente e o passado, assombra qualquer ser.

Durante algum tempo não pára de viajar. Pulando e saltitando o olhar por cada proeminência e reentrância. Embora seja uma experiência deslumbrante, não passa de uma experiência passiva pois não há cumplicidade entra ambos. Tal provoca rapidamente numa sensação de enfartamento do observador, sente que não há mais nada de inovador aquele sítio e aborrecido parte para seu mundo.

O que teria acontecido se tivesse escolhido o outro caminho? O tal de Longo, a este turista não sabemos pois nunca o fez, pode ser que até um dia o faça, o provável é só voltar quando a saudade pela cascata nele entre, voltará pelo mesmo trilho cada vez menos deslumbrante para si. Cada vez mais basilar no seu entendimento. Observará a cascata de longe, sempre sem nenhuma interacção, cada vez menos sentindo algo de novo e de surpreendente, pelo contrário, terá somente um sentimento de saudosismo daquilo que viveu pela primeira vez.

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